7 de setembro- A Margem do Rio
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- 7 de set. de 2018
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7 de setembro de 1822, nas margens do Rio do Ipiranga, D. Pedro I declarou a Independência do Brasil. Você sabe por que um marco tão importante para a história do Brasil ocorreu em São Paulo e não no Rio de Janeiro, sede da família real e do governo da época?

A viagem realizada por D. Pedro I a província de São Paulo é um marco importante do ponto de vista político da época. O Brasil no começo do século XIX sofria com a volta de D. João VI para Portugal e era assombrado pela fragmentação do império espanhol em pequenas repúblicas. Nesse cenário, a família real e alguns membros da elite política e intelectual da época esboçavam preocupação com o destino do Brasil, entretanto essa preocupação se projetava com soluções diferentes.
A primeira solução era dada por portugueses que desejavam o retorno de D. Pedro I para Portugal e pediam que todas as leis que pudessem possibilitar uma emancipação brasileira fossem revogadas. Esse grupo enxergava o Brasil, que adquiriu um peso importante nas decisões da coroa após a sua mudança para cá, como um risco a soberania de Portugal. Já o segundo grupo, liderado por Joaquim Gonçalves Ledo, defendia que o Brasil se tornasse independente e imitasse o caminho das colônias espanholas: fragmentação do território em pequenas nações. O terceiro grupo, era liderado por José Bonifácio de Andrada e Silva, propunha que o Brasil se separasse de Portugal, mas mantivesse o regime monárquico constitucional, e, consequentemente, com a família real portuguesa. Uma relação de pai e filho.
O Dia do Fico, 9 de janeiro de 1822, pode ser considerado o primeiro passo para que o futuro Imperador do Brasil criasse laços com a elite local que não queria ver o Brasil submisso a Portugal, já que deixava bem claro seu posicionamento político em relação ao Brasil e Portugal. O passo seguinte era buscar formas para manter a unidade territorial, econômica e firmar alianças. A província de São Paulo vivia um período conturbado, onde vinha ganhando destaque e importância no cenário econômico do país, entretanto, parte da elite paulista, que se sentia “abandonada” pelas políticas da coroa portuguesa que sempre visavam a capital, ameaçava a se recusar a cumprir ordens. Desta forma, o príncipe regente foi obrigado a organizar uma expedição para buscar resolver as divergências.
D. Pedro I saiu da Quinta da Boa Vista em 14 de agosto de 1822 com aproximadamente 30 homens e uma agenda política pré-estabelecida, com paradas políticas estratégicas.

D. Pedro I chegou em São Paulo na manhã do dia 23 de agosto de 1822, onde foi recebido com toda a pompa prevista. Em sua estadia temporária o príncipe regente convocou novas eleições e governou a província interinamente, reestruturando o poder. Enquanto isso, a princesa austríaca Leopoldina que governava enquanto o príncipe estava fora, arquitetava, com diversos membros da elite local, a separação de Portugal.
De acordo com o historiador Paulo Rezzutti, em agosto de 1822 a princesa regente escreveu uma carta para sua irmã onde afirmava que o Brasil era grande demais “poderoso e, conhecendo sua força política, incapaz de ser colônia de uma corte pequena.” Ou seja, a futura Imperatriz do Brasil já buscava estabelecer apoio das nações europeias sobre o fato histórico que ocorreria.
Em 2 de setembro de 1822, no então Palácio de São Cristóvão (sede do Museu Nacional), D. Leopoldina presidiu uma reunião, chamada por ela, do Conselho de Estado de onde saiu a recomendação de um Brasil independente.
Maria Leopoldina envia uma carta para seu marido onde o alerta sobre a intenção de Portugal de recolonizar o Brasil e sobre a decisão do Conselho: “Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele (Brasil) fará a sua separação.” Ao tomar conhecimento da gravidade da situação D. Pedro I declara separação política entre Brasil e Portugal, na cidade de São Paulo.
CURIOSIDADES
Diz a lenda que ao visitar a capelinha de Nossa Senhora Aparecida, D. Pedro I fez uma promessa: se tudo desse certo ele transformaria Nossa Senhora Aparecida em padroeira do Brasil. Porém, quando se tornou Imperador declarou São Pedro de Alcântara como padroeiro.
Pedro Alcântara foi aclamador Imperador apenas em 1 de dezembro de 1822, onde passou a ser chamado de D. Pedro I. Em sua terra natal (Portugal) ele é chamado de Dom Pedro IV.
A declaração de Independência não teria ocorrido as margens do rio do Ipiranga, como sugere a letra do hino nacional, mas sim no alto da colina próxima ao riacho, após o príncipe parar para se aliviar devido ao um súbito mal-estar intestinal.
O rompimento político demorou para ser conhecido, no Rio Grande do Sul a notícia chegou em 4 de outubro de 1822, e em Lisboa apenas em novembro.
Entre 1823-1824, na chamada Guerra da Independência, principalmente nas províncias do Grão-Pará, Maranhão, Piauí e Bahia, muitos brasileiros e portugueses morreram defendendo a separação ou tentando evitá-la.
Isadora Mutarelli
Doutoranda em História
Universidade do Porto
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