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DIREITA E ESQUERDA NO CONTEXTO HISTÓRICO

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  • 21 de set. de 2018
  • 4 min de leitura

Atualmente você deve estar lendo e escutando muitas dessas expressões: “sou de direita”, “voto na esquerda” ou até mesmo “nem direita nem esquerda, eu sou centro”. Mas o que isso significa no contexto do mundo atual?


Entre explicações simplistas e muito longe do que realmente essas correntes politicas significam, elas também são utilizadas de forma pejorativa e errada. Esse artigo busca explicar a origem dessas denominações politicas indo até os dias atuais, buscando explicar porque atualmente elas já não fazem sentido.


Origem Esquerda e Direita

A origem da termologia Esquerda e Direita é bem mais simples do que você imagina. Essas expressões politicas nasceram durante a Revolução Francesa, no dia 11 de setembro de 1789, durante a Assembleia Constituinte. Nesse dia, os membros da assembleia se reuniram para decidirem sobre o poder de veto do rei Luís XVI. Quem apoiava o poder absolutista, os monarquistas fiéis ao rei e dispostos a lhe dar o direito do veto absoluto sentaram se a direita do presidente da sessão, enquanto que os opositores ao poder absolutista, membros que eram a favor de limitar o veto do rei sentaram se a esquerda do presidente. Nascendo dai a primeira fase da termologia Direita, ligado ao conservadorismo, e Esquerda, como reformista e revolucionária. Vale ressaltar que a origem da ideia de Esquerda e Direita não eram entendidos como algo ligado a um determinado grupo social, já que a Assembleia Constituinte não era formada por uma representação coesa de cada ordem (já que só tinham acesso a tal espaço os nobres e homens ricos do terceiro estado). Ou seja, historicamente a origem de Direita e Esquerda relacionava-se a apoiadores do poder absolutista e seus opositores. Mas então como essa denominação chegou ao significado atual?

Esquerda e Direita no século XIX

Apesar da Revolução Francesa ser considerada a origem da ideia será apenas no século XIX que essas terminologias irão sofrer uma maturação e mudanças fundamentais. Como deve-se lembrar, será nesse século que teremos grandes transformações no campo social, cultural, econômico, políticos e cientifico, mudanças essas que permitirá o surgimento de ideias como liberalismo, nacionalismo, socialismo, anarquismo e marxismo. Nesse cenário repleto de novas invenções e reivindicações, o embate entre Direita e Esquerda fica mais complexo, e suas utilizações passam por alterações de acordo com o contexto histórico inserido. Ou seja, elas vão oscilar de uma posição a outra, muitas vezes se contradizendo, já que estamos falando de um período onde as fronteiras intelectuais, físicas, politicas, entre outras, estão sendo construídas e fortificadas.

No Brasil Imperial não será diferente. Num cenário geral conturbado, em formação e com a mesma elite no poder, o país contava com dois partidos políticos: Liberal, a grosso modo de Esquerda, e o Conservador, de forma simplista tido como Direita. Esses dois partidos tinham divergências políticas, mas compartilhavam do mesmo princípio eram conservadores em relação ao direito de propriedade e as hierarquias sociais, já que esses sujeitos falavam praticamente do mesmo lugar. Muitas politicas tidas com víeis social foram aprovadas por membros do Partido Conservador, como por exemplo:

· A abolição do tráfico negreiro foi realizada por Euzébio de Queirós (1850), um ministro conservador.

· A lei áurea foi apresentada ao Senado pelo conservador Augusto da Silva.

· A proclamação da Republica teve a participação e “cara do movimento” de um monarquista convicto e amigo do Imperador, o marechal Deodoro da Fonseca.



Dimensões mais amplas: século XX

Será somente a partir do século XX que o termo Esquerda e Direita ganhará novos ares e passará a ser utilizado associado a ideologias específicas e as posições dos cidadãos. Nesse sentido a Esquerda passa a estar associada aos sociais-liberais, sociais-democratas, ambientalistas, socialistas, comunistas e anarquistas. Enquanto que a Direita se vincula com os liberais (que até o século XIX era associado a esquerda), conservadores, neoliberais, monarquistas, fascistas e nazistas.

Essas denominações ficaram extremamente marcadas pela Segunda Guerra Mundial e pela Guerra fria (onde temos a dicotomia do mundo polarizado, de um lado o modelo de Direita liberal, democrático, capitalista americano, e de outro o modelo Esquerda social, autoritário, comunista soviético). Entretanto, com a queda do muro de Berlim (1989) essas terminologias sofrem novamente mudanças conceituais.

Muitos esquerdistas passam a adotar políticas denominadas de centro e muitos direitistas passam a adotar políticas reacionárias. Surgindo subdivisões entre Esquerda e Direita.


Século XXI

No século XXI essas denominações podem serem consideradas simplistas e delimitadoras no cenário politico mundial, tornando-se meros rótulos repletos de simbologia que já não condizem com o tempo e espaço em questão. Ou seja, com o passar dos anos essa divisão entre Esquerda e Direita já não abarca as novas demandas e os interesses, não sendo mais suficiente para definir os ideais políticos dos partidos e dos cidadãos. Atualmente seria interessante categorizar as concepções políticas para cada tema e momento como por exemplo: liberal/antiliberal, democrático/autoritário, coletivismo/individualismo, etc.



Desta forma, deixo abaixo algumas indicações de leituras para compreender melhor sobre o assunto:

  1. BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda – razões e significados de uma distinção política. São Paulo: Unesp, 2011.

  2. DUPIN, Éric. Le clivage droite-gauche, de plus en plus symbolique, de moins en moins politique. Slate, 17 novembro 2014.

  3. SARTORI, Giovanni. Partidos e sistemas partidários. Brasília: Unb, 1982.

  4. FABRY, Philippe. Gauche, droite: de quoi il s’agit vraiment. Contrepoints, 5 abril 2013.


Isadora Mutarelli

Doutoranda em História- U.Porto

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