Cleópatra e Arsíone: uma disputa pelo trono do Egito
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- 20 de nov. de 2018
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Você já deve ter ouvido falar sobre Cleópatra. A rainha do Egito já foi representada em filmes, histórias em quadrinhos, documentários e até mesmo em um episódio de Chapolin Colorado. Mas você conhece a história da disputa pelo trono com sua irmã?

Quando Ptolemeu XII, rei do Egito, faleceu em 51 a.C. deixou quatro filhos: duas mulheres, Cleópatra VII e Arsíone IV, e dois filhos, Ptolomeu XIII e Ptolemeu XVI. Cleópatra e seus irmãos foram criados juntos no palácio real de Alexandria, onde receberam uma educação aos moldes gregos.
Ptolomeu XII havia designado como herdeiros do trono seus filhos Ptolemeu XIII e Cleópatra. Ambos deveriam governar em conjunto, como irmãos e como casal, algo característico dessa dinastia.
Quando Cleópatra subiu ao trono seu irmão tinha apenas 10 anos, enquanto ela tinha 18 anos, por este motivo a regência ficou por conta do chefe do exército o general Aquilas. Entretanto, a harmonia entre Cleópatra e Ptolemeu despareceu e a rainha teve que fugir do Egito. Desta forma, um dos tronos ficou vago e Arsíone pensou que poderia ser uma oportunidade para se tornar rainha do Egito, ficando ao lado de seu irmão.
Nesse cenário de disputa, Cleópatra conseguiu reunir um exército numeroso para enfrentar os egípcios. Entretanto, nesse momento chegou uma personagem que mudaria essa história: Júlio Cesar.
O ano era 48 a. C. e Júlio Cesar havia desembarcado no Egito para perseguir Pompeu, mas decidiu ficar para colocar ordem no Egito (já que Ptolemeu XII havia encarregado à Roma a missão de fazer cumprir seu testamento). Júlio Cesar conseguiu reconciliar os irmãos e convencê-los a governar juntos. Este desfecho foi um duro golpe para as aspirações de Arsíone, que havia apoiado seu irmão esperando em troca a posição de rainha. Entretanto, para deixar todos contentes, Cesar decidiu devolver a ilha de Chipre, anexada por Roma em 58 a. C., para os egípcios e para isto nomeou como rei Ptolemeu XVI e Arsíone como rainha daquele pequeno território.
É a partir desses episódios que Cleópatra buscou assegurar uma aliança política e amorosa com Júlio Cesar, adquirindo uma certa proteção necessária e importante para aqueles tempos. Entretanto, esta participação do general na política não era bem vista por alguns, principalmente pelo o rei do Egito. Desta forma, o general Aquilas organizou um exército egípcio e o levou a Alexandria. Com receio de um levante que contasse com o apoio real, Cesar ordenou que Ptolemeu XII e os outros membros da família real ficassem sobre a sua vigilância, e pediu reforços com urgência. Durante as semanas seguintes o exército romano ficou ocupado com os preparativos bélicos e nesse momento Arsíone, junto com seu tutor Ganímedes, conseguiu fugir e se unir com os rebeldes.
Arsíone foi recebida em festa pelo o exército egípcio e declarada rainha do Egito pelos presentes, mas para conseguir a posição legitimamente ainda faltava eliminar sua irmã. Depois de muita discussão com seu general por causa de visões diferentes sobre a melhor estrategia para alcançar a vitória, Arsíone mandou executar Aquilas, colocando no lugar seu tutor.
Ganímedes obteve uma pequena vitória contra os romanos, ao cortar o acesso romano a água potável, mas depois só obteve derrotas e o desagrado de seu exército, devido aos seus excessos. Nesse cenário de descontentamento, os subalternos pediram a Cesar que soltassem o rei Ptolemeu XIII para que este organizasse uma rendição. Cesar concordou com este pedido, já que o rei tinha apenas 12 anos.
Durante meses ocorreram enfrentamentos por terra e mar sem um vitorioso, mas este cenário mudou quando os reforços de Cesar chegaram. Ptolemeu XII morreu afogado por causa do peso de sua armadura, Cesar voltou vitorioso a Alexandria e deixou Cleópatra e Ptolemeu XVI no comando, ainda que era a rainha quem possuía todo o poder.
Quando partiu Cesar levou consigo Arsíone para que não pudesse se rebelar novamente contra Cleópatra e a fez desfilar como prisioneira na comemoração que ocorreu em Roma. Entretanto Arsíone foi exilada em Éfeso.
Com o assassinato de Cesar em 44 a. C., Cleópatra perdeu o seu grande defensor e o medo de Roma voltou a rondar o Egito. Para evitar conflitos e assegurar sua posição política ela necessitava renovar seu vinculo com Roma e a oportunidade apareceu quando Marco Antônio convocou-a para uma reunião em Tarso em 41 a.C.
Nesse momento temos o inicio do romance mais famoso de todos os tempos, mas também a formação de uma solida aliança política. Nesta reunião, questões estratégicas e comerciais entre o Egito e Roma foram discutidos, e, durante estas negociações Cleópatra, que não havia perdoa a irmã e vinha escutando rumores de que esta vinha reunindo forças novamente, pediu a cabeça de Arsíone. Antônio querendo satisfazer o desejo de sua nova aliada politica e amante enviou emissários para Éfeso.
Arsíone havia se refugiado no templo de Artemia, mas não havia desistido do seu titulo de realeza, tendo direito a algumas regalias. Os emissários de Marco Antônio executaram Arsíone a sangue frio. Com este assassinato, Cleópatra já não possuía nenhum irmão vivo e não corria mais perigo por este viés. Cleópatra foi a última rainha da dinastia de Ptolemeu.
Isadora Mutarelli
Doutoranda em História
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