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Tragédia à Brasileira

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  • 3 de set. de 2018
  • 2 min de leitura





Se buscarmos no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa o significado da palavra TRAGÉDIA encontraremos em uma das suas diversas definições a seguinte explicação: “Cena ou acontecimento triste, grave ou perigoso. DESGRAÇA”. Se olharmos mais profundamente nos livros didáticos de História encontraremos a mesma palavra nos capítulos de Grécia Antiga, cuja a palavra está diretamente relacionada com as peças teatro e as poesias, onde sua função moralizadora de contar histórias de lutas inglórias do homem contra os deuses ou seu próprio destino.

Tragédia é a palavra que pode ser utilizada para descrever a luta inglória do Patrimônio Histórico Cultural do Brasil contra o seu destino. Na noite do dia dois de setembro de 2018 era encenado mais uma vez a tragédia prevista, dessa vez o Museu Nacional, a primeira instituição científica da história do país, era o herói que sofria da mesma tragédia de aproximadamente três anos atrás no Museu da Língua Portuguesa (Pinacoteca), ou do Memorial da América Latina, entre outros locais públicos, em todos os casos um agente em comum, o descaso das autoridades públicas.

Não faz parte do ofício do historiador prever o futuro, entretanto não é preciso ter uma bola de cristal para entender que outras estão por vir, pois, como disse anteriormente, elas são tragédias anunciadas. Está anunciada quando olhamos como são os cuidados do Estado com a sua população, está anunciada quando vemos a negação para abrir documentos de um período sombrio da memória deste país e ver tragédias semelhantes podendo se repetir na atualidade, está anunciado quando se congelam os gastos públicos e se vê o sucateamento das instituições públicas, está anunciado quando cortam bolsas de estudos científicos e deixam seu “cérebros” dissiparem para outros lugares, está anunciado quando os que se dizem novo planejam fazer mais dos mesmo, está anunciada quando os mesmo responsáveis por deixarem diversos funcionários públicos sem receber estão próximo de retomarem ao poder... e assim vai sendo a anunciada.

O acervo do museu era composto por cerca de 20 milhões de itens, dos quais eram destaques a coleção egípcia, adquirida pelo imperador Dom Pedro I, o fóssil humano mais antigo encontrado no país, Luiza de aproximadamente 11.000 anos; um diário da Imperatriz Leopoldina, um trono do Reino de Daomé, o maior e mais importante acervo indígena e uma das maiores bibliotecas de antropologia do país. Uma simples manutenção periódica e um cuidado maior das autoridades públicas poderia ter evitado o incêndio que destruiu objetos que sobreviveram a guerras e ao implacável tempo.

A chama do descaso queimou trabalhos, pesquisas, ensinos, memória e como toda tragédia só sobrou as cinzas das desgraças, da ignorância e do esquecimento para seguirmos no nosso destino.



Bernardo Micheletto Neto

Mestrando em História, Relações Internacionais e Cooperação

Universidade do Porto

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